quarta-feira, 29 de julho de 2009

Reflexão Final

Recolhida a informação...É agora tempo de reflectir!
Em primeiro lugar, tínhamos a questão: Já existe uma ética no Ciberjornalismo?

Com a ajuda de Alexandre Gamela e Carla Martins pude obter uma resposta.

Alexandre Gamela disse-me que "A ética para o Ciberjornalismo terá as suas especificidades, na atribuição e relação com as fontes e a entrada dos cidadãos na criação de conteúdos, mas creio que a ética já existente é aplicável na maioria das situações".

Já Carla Martins tem uma opinião que me esclareceu quanto à resposta mais adequada a dar à pergunta que dá mote a esta reflexão: "não existe uma ética específica para o ciberjornalismo mas penso que as características das plataformas tecnológicas justificariam, sim, a definição de uma carta ética adequada ao meio. Finalmente, o quadro jurídico, sendo estático e pouco adequado ao movimento das novas tecnologias, mereceria reflexão e revisão".

Respondida essa questão, tenho ainda a dizer que faz todo o sentido que não exista ainda uma ética específica para o ciberjornalismo, como já referi, apenas o suporte muda, o jornalismo é o mesmo, quem produz os conteúdos continua a ser jornalista, logo a ética já existente é-lhes igualmente aplicável, estejamos nós a falar de jornalimo tradicional ou de ciberjornalismo.

Mas, que fique bem claro que não há dúvida que o trabalho desenvolvido por um ciberjornalista acaba por ser desenvolvido de modo diferente que o do tradicional jornalista.O ciberjornalista também tem de ser um jornalista mais preocupado com o leitor. De uma forma ou de outra, o ciberjornalista tem de ter mais presente o leitor na notícia, pois o leitor não apenas determinará o sucesso ou insucesso do jornalista como também poderá interagir mais com o jornalista e até com as fontes referenciadas nas notícias e ainda determinará a sequência de navegação entre a informação que lhe é oferecida em várias páginas e sites. O ciberleitor é mais do que um leitor tradicional, pois é pro-activo e não passivo ou reactivo. Aliás, o online exige-lhe essa postura pro-activa, de uma "interactividade forçada".

Este é um tema que divide opiniões e não é de hoje que está a ser falado. Já em 2001 se publicavam notícias de congressos sobre a ética do jornalismo online. Isto para não falar das muitas notícias que podemos encontrar sobre o tema, e já que o tema aqui era o online deixo alguns links interessantes:

* http://www.jornalistas.online.pt/noticia.asp?id=6943&idselect=87&idCanal=87&p=0
* http://www.journalismethics.ca/
* http://www.ojr.org/ojr/people/robert/200901/1623/
* http://steveouting.com/2008/08/31/the-palin-baby-rumor-and-journalisti-ethics/
* http://patthorntonfiles.com/blog/2008/10/07/the-online-ethics-seal-together-we-can-be-more-transparent/
* http://www.poynter.org/content/content_view.asp?id=111806
* http://www.scribd.com/doc/32639/On-ethics-journalism-blogging-and-a-brave-new-world-of-media

Em conclusão:

Tal como os outros tipos de jornalismo, o ciberjornalismo também tem as suas regras. A ética não deve ser esquecida, ela aplica-se tanto nos meios tradicionais como no online. Mudam-se os meios e as formas de trabalho, mas não se mudam as regras e a ética mais que uma "regra" ou obrigação deveria ser uma das características obrigatórias para quem quer ser jornalista, seja essa pessoa um jornalista dito "normal" ou um ciberjornalista.







Entrevista a Carla Martins



Para descobrir se já existe uma ética para o Ciberjornalismo nada melhor que entrevistar Carla Martins, Investigadora da Unidade de Análise dos Media da ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social e Professora da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.




1- Já existe alguma forma de regulação do ciberjornalismo? Existe alguma ética para o ciberjornalismo? Se não existe alguma ética especifica, será que ela é necessária?

Já existe alguma forma de regulação do ciberjornalismo. Segundo os seus estatutos, a Entidade Reguladora tem como regulados as entidades que prosseguem actividades de comunicação social, aí se incluindo as pessoas singulares ou colectivas que disponibilizem regularmente ao público, através de redes de comunicações electrónicas, conteúdos submetidos a tratamento editorial e organizados como um todo coerente.

Do ponto de vista ético e deontológico, as regras aplicáveis aos jornalistas são transversais a todos os meios de comunicação social e plataformas tecnológicas. Baseiam-se no Estatuto do Jornalista (em particular, o capítulo sobre os deveres profissionais), que tem força de lei, e orientam-se igualmente pelo Código Deontológico do Jornalista, aprovado pela classe em 1993 em sede do Sindicato dos Jornalistas (é um documento orientador, sem força de lei e que pode não ser subscrito por todos os jornalistas dada a sua génese).

Existem ainda regulamentações específicas para cada suporte - imprensa, rádio e televisão. O quadro jurídico-administrativo ainda está organizado por meios tradicionais; na apreciação dos conteúdos disponibilizados na web tem-se convocado a aplicação da Lei de Imprensa, Lei da Rádio ou Lei da Televisão, com as necessárias adaptações, consoante se trate de conteúdos escritos, áudio ou audiovisuais.

Finalmente, há legislação transversal aplicável à comunicação geral no seu todo, como a Constituição da República Portuguesa. A regulação dos media, na sua missão mais funda, assegura a liberdade de imprensa e o direito dos cidadãos à informação, e também procura equilibrar estes direitos com outros com os quais possa conflituar, como os chamados direitos de personalidade.

Não existe uma ética específica para o ciberjornalismo mas penso que as características das plataformas tecnológicas justificariam, sim, a definição de uma carta ética adequada ao meio. Finalmente, o quadro jurídico, sendo estático e pouco adequado ao movimento das novas tecnologias, mereceria reflexão e revisão.


2- Num meio sempre em movimento em que cada vez mais surge o chamado jornalismo do cidadão onde fica a ética?

A ética aplicada aos jornalistas fundamenta-se no facto de o jornalismo ser uma profissão ou um ofício, e uma das formas da sua legitimação social ocorre por via da explicitação das normas e princípios da profissão. É no fundo uma espécie de contrato com a sociedade, ao qual o jornalista enquanto profissional está obrigado. O investigador norte-americano Michael Schudson propõe uma definição de jornalismo relativamente consensual. O jornalismo “a) publica b) numa base periódica, normalmente diária c) informação e comentário sobre assuntos correntes d) normalmente apresentados como verdadeiros e sinceros e) a uma audiência de pessoas dispersas e anónimas f) de modo a publicamente os incluir g) num discurso assumido como publicamente importante”.

O jornalismo do cidadão não se confunde em princípio com o jornalismo profissional; plasma essencialmente a liberdade de expressão e de opinião e pode assumir, como já assume noutros países, um papel social relevante. A ética, no jornalismo do cidadão, converte-se por assim dizer numa questão de bom senso e de bom gosto.

3- Quando falamos de ciberjornalismo, de que modo pode a ERC agir quando se detectam infracções notórias no código deontológico?

A ERC só por via indirecta se pronuncia sobre comportamentos individuais dos jornalistas, na medida em que o seu trabalho surge enquadrado num meio de comunicação social. Esta actuação regulatória poderá sim relacionar-se com incumprimentos da esfera ética e deontológica nos limites das competências e atribuições da Entidade (veja, por exemplo, uma decisão recente sobre o Jornal Nacional da TVI). Quando detecta incumprimentos no plano ético e deontológico não poderá fazer mais do que "instar" o meio de comunicação social em causa ao cumprimento dos deveres profissionais ou produzir recomendações que são obrigatoriamente publicadas ou lidas no meio em causa.

Para dirimir questões desta esfera, directamente visando o comportamento de jornalistas individuais, existe o Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas (que emite pareceres e recomendações não vinculativos) e a Comissão da Carteira Profissional dos Jornalistas, com poderes para sancionar.

A palavra é: Adaptação!



Um facto que me parece importante retirar deste vídeo e do depoimento de Luiz de Carvalho é o seguinte: é necessário que o jornalista se adapte à web.

Escrever para o online não é o mesmo que escrever para um jornal em papel. por exemplo .
Um jornalista bem preparado, na actualidade, tem de dominar a linguagem e a técnica de diferentes meios e de especializar-se em determinados conteúdos, para poder encontrar a melhor informação. Também o tratamento dado à notícia deve ser diferente.

Quererá isto dizer que a ética também deve ser diferente?

Não, e esta é, sem dúvida, a minha opinião:


Não concordo que tenha que existir uma ética específica para o ciberjornalismo. Não se justifica, afinal, apenas o suporte em que a informação é partilhada muda, tudo o resto é, no fundo, jornalismo. Assim sendo, o ciberjornalista deverá estar sujeito às mesmas regras do código deontológico e deverá guiar-se pelos mesmos princípios éticos.




quarta-feira, 17 de junho de 2009

As opiniões dividem-se


O surgimento da Internet trouxe para o mundo dos meios de comunicação social novas configurações e novas oportunidades de trabalho. Por esta razão assistiu-se nos últimos anos a um aumento dos órgãos de comunicação interessados neste suporte devido às suas vantagens, sendo que uma delas é a capacidade de interactividade, multimédia e personalização. Um meio diferente exige competências diferentes por parte dos jornalistas, que acabam por ter também um perfil diferente do habitual.

Assim, nos diversos meios digitais portugueses – Diário Digital, Directo.co.pt, Público.pt, Portugal Diário, entre outros – são os jovens que mais marcam presença entre os profissionais.
Hélder Bastos, editor da redacção norte do Diário de Notícias e autor do livro «Jornalismo Electrónico - Internet e Reconfiguração de Práticas nas Redacções», considera o jornalista digital «um profissional que trabalha num novo meio, a Internet, e ópera com ferramentas de trabalho diferentes do jornalista tradicional. É alguém que está preparado para trabalhar num ambiente hipertextual e interactivo». Este editor prefere usar a expressão «ciberjornalista» para denominar estes profissionais.

Por seu lado, Filipe Rodrigues da Silva, editor do Diário Digital, afirma que «o jornalista digital não é mais do que um profissional de comunicação a trabalhar num meio (mais ou menos) novo, muito específico, com determinadas características e regras de forma e conteúdo».

Duas opiniões em contradição e com as quais acabo por ter que concordar, primeiro porque de facto quem trabalha em jornalismo digital tem que ter outras competências, no entanto também é verdade que apesar de usar ferramentas diferentes não deixa de ser um profissional de comunicação, não deixa de ser um jornalista.

O aparecimento de vários órgãos de informação online trouxe alterações em relação ao trabalho do jornalista. Para Hélder Bastos «as relações entre o jornalista e as suas audiências modificam-se no sentido de uma maior interactividade. A exigência de saber na manipulação de software específico e na construção de "pacotes" multimédia em forma de notícia são pontos significativos em que o trabalho do ciberjornalista se distingue dos seus colegas e dos média tradicionais».

Para actuar neste novo ambiente multimédia é necessário que os jornalistas adquiram novas competências, para além das necessárias na actividade do jornalismo “dito tradicional” – rádio, televisão e jornais. Hélder Bastos considera que é sobretudo necessário «ter competências técnicas, mas também aprender (e apreender) uma nova linguagem e cultura, ou cibercultura».

Já Rodrigues da Silva também defende a importância das competências técnicas, e dá exemplos: «conhecimentos ou noções de desenho de páginas web, de certos «ambientes informáticos» e programas de texto; de saber «colocar e trabalhar» fotos e legendas, dominar um pouco de linguagem de programação, como HTML ou XML, para utilizar comandos que permitam dar tratamento gráfico ao texto que não estejam previstos no sistema de gestão do jornal».

As questões éticas e deontológicas do jornalista num novo meio de comunicação também se revelam pertinentes, aliás a ética e a deontologia nunca devem estar afastadas da área da comunicação. Hélder Bastos considera que «hoje, as problemáticas mais evidentes relacionam-se, por exemplo, com a possibilidade que os produtos jornalísticos na Web proporcionam de interpenetrar informação e publicidade» e lança algumas questões interessantes:

  • «Qual o posicionamento que o jornalista deve adoptar? Sentir-se-á confortável ao assinar uma crítica a um livro tendo na mesma página um "banner" de uma livraria online?».
Este autor acrescenta ainda que «existem questões relacionadas com a citação de material recolhido em newsgroups, chat groups ou através de simples email. É lícito ao jornalista citar o que alguém disse online sem que esse alguém tenha conhecimento e autorize? Não é. Mas não falta quem o faça despreocupadamente».

Apesar de existirem estas novas questões éticas e deontológicas, Hélder Bastos considera que «há um tronco ético e deontológico comum entre jornalistas “tradicionais” e “ciber”, que deverá ser respeitado». Filipe Silva, por seu lado, defende que «as questões de ética e deontologia são as mesmas. O suporte do meio de comunicação pode ser distinto, mas os jornalistas regem-se pelos mesmos princípios e códigos» e alerta para o facto de «nunca deixamos de ser jornalistas por sermos ciberjornalistas ou jornalistas online, mantemo-nos fiéis à verdade, defendemos e protegemos as fontes, não discriminamos raças, crenças ou religiões». Para este editor «estes exemplos e outras regras permanecem válidos e fundamentais para um jornalista digital», e conclui: «é isso que dá credibilidade e nos pode tornar uma referência».

Na minha opinião e referindo os artigos 2 e 4 do código deontológico do jornalista: “o jornalista deve combater a censura e o sensacionalismo e considerar a acusação sem provas e o plágio como graves faltas profissionais.”, “O jornalista deve utilizar meios leais para obter informações, imagens ou documentos e proibir-se de abusar da boa-fé de quem quer que seja. A identificação como jornalista é a regra e outros processos só podem justificar-se por razões de incontestável interesse público.”. Deste modo estará a trabalhar de modo a preservar a sua ética pessoal e do seu trabalho.

Entrevista a Alexandre Gamela




Alexandre Gamela
pareceu-me a pessoa indicada a contactar para me falar sobre a ética no Ciberjornalismo. Ouçamos a opinião deste Jornalista, webdesigner e RP freelancer que respondeu a algumas questões sobre a temática em análise.

-Existe alguma ética específica para o Ciberjornalismo?


Não creio, a função é a mesma e terá que seguir os trâmites e regras do Jornalismo. O Ciberjornalismo implica "apenas" uma mudança de meio, velocidade, formatos, e de relação com o público. Mas os paradigmas éticos deverão ser os mesmos que os do Jornalismo tradicional. É claro que novas questões se levantam, mas se aplicarmos os princípios éticos básicos temos muitos problemas resolvidos. A ética para o Ciberjornalismo terá as suas especificidades, na atribuição e relação com as fontes e a entrada dos cidadãos na criação de conteúdos, mas creio que a ética já existente é aplicável na maioria das situações.

-Se não existe será que há necessidade dela?

A ética por definição é o conjunto de regras que têm por objectivo as boas práticas para um bem geral, no caso do Jornalismo, para uma aplicação correcta, independente e socialmente valiosa da informação. Como já disse, o prefixo "ciber" refere-se a uma plataforma, o que interessa aqui é o Jornalismo per se. Há a mesma necessidade porque é a mesma actividade.

-Serão as regras dos meus tradicionais passíveis de aplicar à web?

Sempre, e terão que se encontrar respostas para novas questões, mas os fundamentos básicos mantém-se. A velocidade sempre foi o maior problema na informação e nunca se foi tão veloz como agora, o que cria problemas no processo de recolha, verificação e distribuição de informação. Os princípios éticos mantém-se, e os processos básicos também. No fundo, o trabalho do jornalista é exactamente o mesmo: recolher, verificar e difundir informação. As ferramentas e o grau de envolvimento com o público é que mudaram, mas no cerne da profissão pouco mudou. Um mau jornalista é um mau ciberjornalista e vice-versa, para além das questões técnicas de tratamento de informação há um elemento de formação pessoal que pesa muito e acabamos por nos esquecer disso.

-Num mundo em que todos podem ser repórteres de que modo os valores éticos se vão conseguir manter?

A avalanche de informação gerada por cidadãos comuns - que não têm como actividade o jornalismo - criou essa questão, mas é também a própria resposta ao problema. As relações na Internet baseiam-se cada vez mais na confiança e recomendação, e com tanta escolha existe uma fiscalização entre utilizadores e os conteúdos que geram, sobressaindo sempre os melhores, e acabando os piores por serem ignorados ou desmascarados. Esta autoregulação é extraordinária e fortíssima, mas não está relacionada com os princípios éticos do Jornalismo mas com princípios morais de uma sociedade que vive online e que busca de forma activa a melhor informação possível. Os valores éticos terão que estar permanentemente presentes no trabalho dos jornalistas, que terão que ser os mais fidedignos e capazes possível para poderem estabelecer dois activos extremamente importantes para a sua actividade: reputação e confiança. Se plagiarem facilmente serão apanhados, se mentirem caírão em desgraça, em poucos minutos se destrói uma imagem que demorou anos a construir. O papel do jornalista continua a ser recolher a informação, venha ela dos cidadãos repórter ou não, e submetê-la ao seu filtro ético, procurar a verdade, não aceitar como final a informação que lhe é disponibilizada. A ética do jornalista é o valor-padrão de qualidade de informação, agora se a informação que os cidadãos repórter alcança ou não esse padrão é outro problema, que como disse, se resolve por sim mesmo.

-A diferença entre o ciberjornalismo e o jornalismo tradicional está relacionada apenas com uma questão de meio e formato, ou também com uma diferença nos métodos de tratamento da informação? Assim sendo, será que também a ética deverá ser diferente?

Há diferenças nos formatos e acrescenta-se agora a relação com o público, que é um capitulo novo a escrever na ética jornalística, já que podemos ter contribuições dos utilizadores que podem influenciar o trabalho do jornalista, e é preciso saber como creditar e até que ponto deixar ir essas contribuições, e aplica-se desde a análise comunitária de uma quantidade enorme de dados à moderação de comentários. Questionou-se o pagamento do site TMZ por informações sobre a morte de Michael Jackson, mas há anos que se faz isso. É menos correcto por ser um site ou sempre foi incorrecto? Vale tudo pela informação correcta primeiro que todos? Creio que os dilemas éticos presentes no Ciberjornalismo são basicamente os mesmos que sempre existiram antes do Jornalismo ser "ciber", mas elevados à dimensão de uma sociedade da informação ávida de conteúdos noticiosos e num meio altamente competitivo. Mas caso todos os princípios éticos falhem, a última entidade reguladora será o consumidor, que agora tem o poder de questionar e desmascarar todas as situações duvidosas que lhe surgem, e rapidamente recorrer a alternativas. Antes isto não era possível e comia-se o que nos punham à frente, agora podemos escolher tudo. A ideia de que o público é amorfo e estúpido que existia na cabeça de alguns propagandistas é totalmente descabida nos dias em que vivemos, onde os utilizadores têm uma atitude proactiva no consumo de informação. Por isso a ética só deverá ser diferente numa coisa, tem que estar sempre a ser relembrada para não se cair em tentações próprias da vertigem informativa, tão propícia ao erro.

Num mundo onde todos são repórteres!



A Internet é um media do futuro e é nele que todos os cidadãos estão em constante contacto com a realidade. Este meio favorece que o cidadão-repórter se torne uma realidade, ou seja, a Internet permite que o indivíduo crie a sua própria informação e relate aquilo que vê, contacte com quem quer, conhece e passeia pelo mundo inteiro sem sair da cadeira, apenas com um ‘clique’ ele pode ter acesso à mais diversa e sofisticada informação e pode também criar a sua própria informação. Em Portugal tem vindo a crescer, o recente Ireporter, já incentiva o jornalimo do cidadão, mas em Espanha, existem vários jornais que incentivam a existência de cidadãos-repórteres, como, por exemplo o El Correo Digital.

O cidadão contribui assim com material informativo, nomeadamente vídeos, fotos, fontes e comentários. É, portanto, uma participação activa na divulgação de conteúdos e assinala uma nova viragem na imprensa e nos media. Assistimos a uma democratização da informação.

Mas... Num mundo onde todos são ou podem ser repórteres será que o jornalismo on-line exige uma nova ética?

A resposta mais comum tem sido a de que os grandes valores jornalísticos devem ser reforçados: o rigor, a intenção de verdade, a intenção de objectividade, os princípios da verificação da informação e da contrastação de fontes, etc. Talvez não haja, assim, nada de verdadeiramente novo no campo da ética profissional, mas sim a reformulação da postura ética tendo em conta as novas variáveis trazidas pelo ciberjornalismo.

Por exemplo, se o jornalista vai a um chat em busca de informações, deve identificar-se como jornalista ou não? Que links devem ser colocados numa notícia? Como ultrapassar o problema da instantaneidade e como e quando corrigir informação falsa? Como distinguir informação de publicidade, reportagem e reportagem de mercado?

São questões ao mesmo tempo novas e velhas que parecem confirmar que os valores que norteiam a profissão de jornalista são os valores que a devem nortear no futuro e que num mundo sobre-informado, no qual há fortes pressões que podem vir a diluir as fronteiras do jornalismo, a imposição dessas fronteiras, ou desses limites, àquilo que é e não é jornalismo, se torna ainda mais necessária...

Já existe regulação no ciberjornalismo?

Falei ao telefone com o jornalista Oscar Mascarenhas, presidente do Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas. O tempo para responder às questões apresentadas não era muito, ainda assim quando questionado sobre se já existe alguma forma de regulação do jornalismo a sua resposta foi imediata: "Não, claro que não!".

A auto-regulação parece ser o modelo vigente....
De facto, o futuro do jornalismo vai passar por um entendimento da questão moral do indivíduo: se um jornalista, enquanto técnico da comunicação, não tiver valores éticos que respeite certamente isso reflectir-se-á no seu trabalho.


Cabe ao jornalista conhecer e saber distinguir o bem do mal, a verdade da mentira e o certo do errado. No entanto, o que pode ser certo para um jornalista, pode ser errado para outro, aí já cabe à consciência de cada conforme o conhecimento e formação que adquiriu sobre a ética profissional.